Primeiro escrito
de 2019
nas últimas páginas do caderninho
que vem comigo desde 2017.
O novo que se abre,
o velho que se encerra.
Começar e acabar
abrir e fechar
começo e fim
juntos
Observo com gosto
a ironia e o paradoxo
da existência.
Não é exatamente
esse o movimento
da vida?
Folha que cai
semente que brota.
Tanto a apreciar.
axungulá
terça-feira, 1 de janeiro de 2019
terça-feira, 20 de novembro de 2018
Poema de hoje - 20.11.28
sentir-se inevitavelmente só
apesar de tantos comigo
tantos em mim
sobrepeso de ideias
e palavras por onde
escoá-las
não encontro mais
facilmente
podia falar de tanta coisa
mas insisto
mesmo tema de sempre
ausência de poema
dificuldade de escrita
na adultez atual
já há anos que essa
atualidade me habita
e na realidade sigo escrevendo
até hoje
até agora
neste momento
a escrita muda tanto quanto
a gente
e seguimos, ela e eu
inevitavelmente
sós
um pro outro
maneira de ser sozinho
maneira de estar com todos
quando escrevo posso ser tudo
se escrevo, há todos
em mim e comigo
soltar o pensamento nos dedos
quer seja por lápis, caneta
ou por teclas
mas em movimento
soltar o pensamento
de mim
sair-se
de
si
no
ins
tan
te
para saber ser algo entre
mais e menos
por que escrever continua sendo ambos
dor e remédio?
adentrar-se e
abster-se de si
num só tempo
criar outros
outras
coisas tantas além
movimento nuvem
sombra cheia e vazia
usando letras
escrever o que não cabe
na linguagem
como?
ventania e
silêncio
tons de cinza
branco e preto
hoje me são
mais do que eu
enquanto o corpo
febril
alucina
querendo algum tesão
sem nome
sem linguagem
comunicar-se
por entre aléns
deixar solto
o centro do corpo
emanando algo
invisível
poema que dói
porque nunca
termina
igual transar
sem gozar
mas não
infelizmente
terça-feira, 10 de julho de 2018
Juqueí - Julho 2018
Estar aqui traz muitas lembranças.
Logo que entrei fiquei emocionado, ao ver os pratos, louça
antiga, uma estante de madeira, marcas aconchegantes dos encontros com tio Ronaldo,
tia Sonia, Gab e Ju.
Fiquei com muita saudade do meu tio, especialmente, e senti
que gostaria muito de estar com ele agora, tomar uma cerveja ou um vinho, fazer
um rango, conversar.
Como a morte pode ser triste, às vezes, quando imaginamos
como seria se a pessoa querida ainda estivesse aqui. Sobre o que
conversaríamos? Do que daríamos risada?
A morte da Juju recentemente foi uma espécie de gota d’água pra
mim, um alarme que soou internamente e me disse que não dá mais pra ficar de
lenga-lenga, temos que aproveitar tudo ao máximo. Não há amanhã. E temos que
desfrutar da presença de pessoas queridas o máximo possível. Vibrar em alegria
juntos, tanto quanto puder, deixando cair possíveis besteiras e receios, medos
e ranços que possam existir.
O maior clichê do mundo é verdade: a vida é muito curta pra
ficar dando corda pra besteirada da mente e das relações. Que caiam todas as
mágoas e desavenças. Que possamos vibrar no encontro, em alegria, e que possa
haver diálogo e criação.
É essa reflexão maior que me vem depois da morte da Julia, e
é bem por aí que eu gostaria de caminhar a partir de agora. Estar aqui pra mim
é um descanso, um repouso absolutamente necessário depois desses meses – mas é
também um reencontro, um luto, um interlúdio silencioso que precisava há muito.
Um reencontro com o mar, com o sol, com a areia e os ventos
que vem do oceano. Um reencontro com Hermann Hesse, e a lembrança daquele
primeiro encontro de 2004, quando pela primeira vez li, aqui, também em julho,
Demian e Sidarta.
Estar aqui é um luto, que só posso viver solitário, mesmo
que sem lágrimas nem nada demais. Mas ainda assim, uma possibilidade de. Um
perceber-me na quietude, sem ninguém por perto – um escancarar-me a mim mesmo,
tal qual nos faz a parede do zazen.
Estar aqui dessa vez e desse modo é umas férias preciosas
para poder também achar em mim o espaço de criar algo novo, ou de continuar
criando o que já quero, mas não há corpo. Somente com o descanso é possível
preparar os ossos e os músculos e assim separar o ritmo da marcha que vinha
vindo até aqui. Sensibilizar o corpo, sensibilizar o coração e a mente mais uma
vez, e só com o repouso e o ócio isso é possível.
Estar aqui hoje é esse interlúdio entre uma responsabilidade
e outra, para um talvez perceber uma responsabilidade maior: viver
deliberadamente, com poesia e sem medo da morte.
Entrar no mar todos os dias traz-me isso novamente, traz-me
a mim, traz-me à vida.
Reencontro com o mar, mestre, mãe. E com a saudade, gratidão
que nunca termina.
domingo, 18 de fevereiro de 2018
De tão fenomenal
De tão fenomenal
O que eu faço da minha vida de tão fenomenal que não posso
parar uns minutos e olhar pra minha avó com carinho, para os vizinhos tão
generosos, para um amigo ou outro distante mas não menos querido, para meu pai
que tanto se esforça na vida, para o céu que sempre oferece alívio, para o chão
que sempre oferece beleza apesar da sujeira.
O que eu faço da minha vida de tão fenomenal que me faz
querer ainda mais, quando nada basta, nenhum encontro, nenhum olhar palavra
abraço beijo afago trepada serve, porque mal serve pra aliviar – que eu faço?
Se minha vida de tão fenomenal não se basta, quanto mais um pequeno encontro de
amigo, quando acontece, se acontece (em meio a essa cidade que tanto impede).
Que eu faço de tão incrível que não cabe mais nenhum poema, mas cabe horas no
smartphone esperando o busão, cabe uma respiração falha que não preenche o
corpo, cabe minuto atrás de minuto enrolando o cabelo e pensando corto ou não
corto, corto ou não corto, corto ou não corto.
Lembro
Lembro
lembro – e acho tão difícil saber o que é lembrar e o que é
imaginar – das tantas noites que adormeci em cima de você, num sono
incontrolável e belo. a gente pelado e o sexo que era tão outra coisa, antes de
dormir sem nem perceber. quando de repente acordava, estava ainda dentro de ti.
seus braços que tão ternamente me acolhiam, e eu que delirava por estar ali
também te acolhendo. a chuva que cai pesada lá fora, o escuro, o calor que
emana da gente, o tesão de poder ser tudo sem ter que ser nada, e sermos.
pelados, e tua nudez que me era tão outra coisa, que me vociferava e ao mesmo
tempo enternecia. que tesão é esse que assola e reconforta a um só tempo? chuva
pesada lá fora, delírio leve aqui dentro.
já te escrevi isso, já publiquei isso, já te enviei e
reenviei isso: quando te ver acordar me faz descrer estar acordado, quando tua
nudez me assola pelo resto do dia, pelo resto dos dias. e parece que nada
adiantou, a não ser praquela época, praquela época. agora eu só imagino,
continuo louco e terno como era quando você comigo. e sigo sem saber se o que
eu sinto é saudade: de ontem ou de amanhã.
quarta-feira, 3 de janeiro de 2018
POEMA SOB ENCOMENDA para o ano novo que se abre
POEMA SOB ENCOMENDA
para o ano novo que se abre
Auspícios se fazem
bons
quando do pensamento
correto brotam.
Silêncio.
O ano que se abre
só é novo
e genuinamente
aberto
se eu me fizer
nele novo também.
Li uma vez que
não há caminho novo,
mas sim um
novo caminhar.
Silêncio.
Antes da virada:
faxina, adentrar os
porões de minha casa
e os porões do
coração-mente: faxina
e silêncio
observar o lixo jogado
fora
sem apegos nem
aversões.
Depois da virada:
faxina, adentrar os
porões de minha
casa e os porões
do coração-mente:
faxina em silêncio,
observar o lixo jogado
fora sem apegos nem
aversões.
Sorriso.
Se conseguirmos tirar
a raiva de nossa força,
conseguiremos reunir e
devidamente descartar
mesmo os mais fétidos
e desagradáveis resíduos
detritos, lixos e pedras
do caminho
sorrindo,
talvez.
Silêncio.
Li noutra vez
que estudar a si
mesmo é estudar
o ser humano, e
estudar o ser
humano é estudar
a si mesmo.
Há um eu e há
um outro?
O que difere a
casa do coração-mente?
Auspícios se fazem
bons, quando
do pensamento correto
em silêncio
brotam,
feito botão da primeira
flor de ameixa.
Sem alarde, nem
selfie.
Silêncio.
*
Para as queridas monjas Shingetsu Coen Sensei e Waho Sensei.
Gasshô.
quinta-feira, 2 de março de 2017
desarmar
amor amado se deixa de amar?
é possível desamar?
desarmar, com ela aprendi, é.
desarmei-me, sorridente, aos poucos.
e como agradeço – a ela, a vida.
ao que fomos, e ao que hoje
posso ser.
confesso que dói a possibilidade
inegável e concreta
concreta
de que não mais seremos
elaeu.
tenho dificuldades de adentrar
as tretas
do âmago.
ouvindo
sweet nothing serenade
confesso que dói
saber do caminho dela
em que não há mais eu.
mas se com ela um dia
adentrei
não há sem ela
que me faça perder-me
da alegria que foi.
e porque foi,
é.
sigo-a levando em mim,
sem medo de chorar
sorrindo.
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